A apresentação do recente Cupra Terramar voltou a dar vida a um dos circuitos mais antigos da mundo – o Autódromo de Sitges-Terramar. Construído em 1923, recebeu algumas provas até à década de 1950, quando se tornou desadequado para as novas competições da época. Hoje é palco de eventos especiais, enquanto se espera uma revitalização do local.
Perdido no meio de uma zona de pequenas moradias, o Autódromo de Sitges-Terramar situa-se nos arredores de Barcelona, em Sant Pere de Ribes, efetuando um curioso contraste entre o passado e o presente. Quem não conhecer a sua existência quase que é perdoado por seguir em frente sem deitar um segundo olhar aos topos da oval que se conseguem vislumbrar pela estrada contígua. Com efeito, o circuito esconde-se, quase como um segredo partilhado apenas entre os entusiastas dos automóveis.
Porém, trata-se de uma obra histórica, hoje largamente em mau estado devido a vários anos de abandono e de parca manutenção. Detida por privados que não querem atrair grandes atenções, o circuito foi construído há mais de um século, mais concretamente, em 1923, tendo a honra de ser o primeiro traçado permanente na Península Ibérica e o quarto de todo o mundo – na Europa, apenas existiam Brooklands, no Reino Unido (1907) e Monza, em Itália (1921) –, com Terramar a seguir os preceitos da época.
Um traçado oval, como era tradição na época, embora neste caso não totalmente perfeito – Terramar tem um desenho que evoca o de um feijão, com um perímetro de 2 km certos. Mas, um dos seus aspetos mais marcantes é o de ter um dos “bankings” mais pronunciados do mundo, com impressionantes 66º. Para uma pessoa, é impossível estar no topo em pé e mesmo um automóvel começa a deslizar pela rampa abaixo se parado.
O circuito pretendia responder à atração cada vez maior pelos desportos motorizados no período após a Primeira Guerra Mundial, sendo construído em menos de um ano (300 dias) com um custo total de 4 milhões de pesetas. Na sua autoria estão dois arquitetos, Josep Maria Martino Arroyo para as bancadas e Jaume Mestres i Fossas para o desenho do circuito, que se inspirava nas outras ovais, mas com a tal particularidade de dois “bankings” extremamente inclinados.
Poucas corridas até se tornar quinta
O primeiro evento a ter lugar naquele circuito teve lugar na própria cerimónia de inauguração, a 28 de outubro de 1923, naquele que foi o primeiro Grande Prémio de Espanha. Apesar da chuva, os automóveis participaram na primeira corrida, com Alberto Divo a vencer a prova ao volante de um Sunbeam com uma velocidade média de 142 km/h.
Inaugurado a 28 de outubro de 1923
Ao longo dos anos seguintes foi organizando outras provas de menor importância, paralelamente com os problemas financeiros que os construtores e primeiros proprietários do Autódromo de Sitges-Terramar foram conhecendo. No culminar da situação, o circuito chegou a ser arrestado pelo Estado espanhol, tendo sido vendido em 1930 ao checo Edgar de Morawitz, que tratou de modernizar algumas áreas com o intuito de fazer regressar as corridas.
O seu esforço foi em vão, pois a Guerra Civil Espanhola, entre 1936 e 1939, e ao mesmo tempo o início da Segunda Guerra Mundial com os impactos económicos e financeiros sentidos por todo o mundo durante a década de 1940, levaram a que as corridas ficassem para segundo plano em Terramar. Além disso, mais determinante ainda, Morawitz era contra o regime de Franco, pelo que abandonou a gestão do Autódromo por medo de represálias.
Na década de 1950, o circuito ficou definitivamente votado ao abandono, com diversas passagens de mãos entre proprietários, até se tornar numa quinta – a Avimar funcionou até aos anos 1980 e transformou consideravelmente o Autódromo, dando-lhe o aspeto que tem atualmente.
A tribuna histórica foi transformada numa fábrica de rações, o interior do anel foi plantado com vinhas, trigo e árvores de fruto
A tribuna histórica foi transformada numa fábrica de rações, o interior do anel foi plantado com vinhas, trigo e árvores de fruto, criou-se um sistema de irrigação com lagos e canais e foram construídos milhares de metros quadrados de aviários, incubadoras, pavilhões para porcos e vitelos. Atualmente, também quase não sobrou nenhum rasto destas atividades.
Pronto para a recuperação
Percorrer uma volta ao circuito é tarefa complicada, em primeiro lugar, porque não se realizam atividades de pista no local, como “track-days” ou encontros de clubes. Mas, o Autódromo de Sitges-Terramar aceita eventos, como os que a Cupra organizou recentemente na apresentação internacional do Terramar, um SUV híbrido que carrega em si o peso de um nome centenário.
Piso degradado
Embora se encontre melhor agora do que estava há alguns anos, o circuito de Terramar continua a evidenciar um piso (composto por milhares de lajes quadradas) longe do ideal, nalguns dos casos com grandes buracos – entretanto tapados – que desaconselham a grandes velocidades.
Menos nos “bankings”! As grandes curvas inclinadas, que se erguem como paredes do passado à medida que nos aproximamos ao volante, estão curiosamente em estado relativamente apreciável, permitindo que os carros possam viajar bem perto do topo, com o efeito da gravidade a colar o modelo ao topo.
No caso do Terramar, os pilotos de testes da Cupra, incluindo Jordi Gené, fizeram questão de levar os jornalistas e convidados até ao topo do “banking” durante a noite, com velocidades acima dos 140 km/h, demonstrando não só a capacidade do novo modelo espanhol, mas também também o seu talento para circular bem perto do limite.
Os proprietários querem renovar alguns dos elementos do circuito
No futuro, os proprietários querem renovar alguns dos elementos do circuito, como a bancada principal, trazendo-a de volta para a modernidade, bem como o circuito, que se manterá com uma construção por lajes de betão, procurando servir de centro de exposições e de ponto central para outros eventos como este da Cupra, que culturalmente tem um vínculo maior a este local (bem como a SEAT, que também já aqui fez eventos de lançamento de produtos no passado, como a gama Leon Cupra 290). Para o futuro, não estão previstas corridas, nem eventos de clubes.
Indo mais além das suas antigas ambições automobilísticas, o Autódromo também terá eventos direcionados às competições equestres e outros eventos sociais e culturais. O processo está em marcha para a renovação, embora não exista ainda uma data concreta para a sua reabilitação total.
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