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Só União pode salvar a indústria automóvel

Atualizado: 4 de jun.

Luca de Meo, diretor-geral do Grupo Renault e presidente da ACEA, escreveu uma carta aberta aos decisores políticos da Europa, pedindo-lhes maior abertura tecnológica e plano de ação que ajude os construtores no confronto com chineses e norte-americanos. E alerta para problemas sem (re)ação, recorrendo a analogia com a Airbus para propor uma fórmula de sucesso para o futuro da indústria...



A poucas semanas de os europeus irem às urnas para elegeram um Parlamento Europeu novo, Luca de Meo, patrão do Grupo Renault e Presidente da Associação Europeia de Construtores Automóveis (ACEA), alerta para a necessidade de a Europa defender mais e melhor os seus interesses e explicou todas as dificuldades que a indústria da região está a enfrentar para competir com os rivais chineses, antecipando repercussões negativas em todos os quadrantes, do económico ao social.

 

“Através das decisões e regulamentos que adota, a Europa influencia a nossa vida e a economia. As suas decisões têm, e terão, um impacto forte em muitos setores, a começar pela indústria automóvel. Acredito firmemente no futuro e estamos comprometidos com a transição energética, mas estamos a investir cerca de 250 mil milhões de euros e isso pressupõe a criação de um quadro claro e estável”, escreve Luca de Meo na carta dirigida aos decisores políticos da Europa no dia 19 e partilhada hoje.



A ameaça chinesa 

Na missiva, tão detalhada como extensa, o italiano apresenta o diagnóstico preocupante da indústria europeia, que diz estar “ameaçada pela investida dos elétricos chineses”. “Empregamos 13 milhões de pessoas na Europa, ou seja, 7% dos assalariados e 8% dos operários na região. Por exportar mais do que importa, o setor gera um excedente comercial de 102 mil milhões de euros”, diz, recordando que o automóvel “inova e investe muito”, com um orçamento de investigação e desenvolvimento na ordem dos 59 mil milhões de euros.

 

No dia a dia, o automóvel domina todos os outros modos de transporte – 80% dos passageiros e das mercadorias transportadas por quilómetro – e é uma importante fonte de receitas para os 27 países-membros da União: 392 mil milhões de euros (mais de 20% das receitas fiscais!). “Mas os sintomas do enfraquecimento estão a multiplicar-se”, refere, alertando para o risco da transferência do centro de gravidade para a Ásia, onde 51,6% dos modelos novos de passageiros são vendidos globalmente.


“Os modelos eletrificados (elétricos e híbridos Plug-In) assumiram a liderança, representando 14% das vendas mundiais. A China está a progredir rapidamente no segmento dos 100% elétricos, com o mercado interno (8.5 milhões de elétricos em 2023, ou seja, 60% do total mundial), a impulsioná-la. Conquistou uma quota de mercado de 4% na Europa em 2022 e, em 2023, 35% dos elétricos tinham origem na China. As importações europeias provenientes daquele país quintuplicaram desde 2017, o que contribuiu para um aumento acentuado do défice comercial entre a Europa e a China – duplicou entre 2020 e 2022, aproximando-se dos 400 mil milhões de euros!”, acrescentou, dizendo ainda que as marcas que “mais exportaram no primeiro semestre do ano passado foram MG e BYD. E é Tesla que aparece a seguir, com o Model Y enviado de Shanghai para a Europa”.



E uma parte da questão reside nos apoios fiscais e nos quadros regulamentares mais favoráveis aos chineses, referindo mesmo que “a produção na Europa é mais cara. Um automóvel do segmento C fabricado na China" tem uma vantagem de custo de 6 a 7 mil euros (cerca de 25% do preço total)”.

 

Luca de Meo recorda que a China está empenhada em ser número um mundial nos elétricos, graças a uma “estratégia industrial ambiciosa e proativa”, com a introdução de uma série de regulamentos que incentivam os fabricantes a melhorarem o desempenho dos seus modelos e a aumentar as suas vendas. “Ao autorizar a entrada neste mercado de todas as empresas que o queiram, está também a fomentar a concorrência entre elas. As que sobreviverem, inevitavelmente, serão muito poderosas”, afirma.



Protecionismo será contraproducente 

Já a Europa, diz o responsável da Renault e da ACEA, “regula freneticamente”, dizendo mesmo que está a ser preparado um verdadeiro empilhamento de normas e regras! A Europa apresenta-se como campeã na proteção do ambiente, na esperança de que seja um fator de progresso social para todos, mas isto penaliza a competitividade das empresas. Nestas condições, a Europa está confrontada com equação complicada. Deve proteger-se, mas depende da China para o lítio, o níquel e o cobalto, e de Taiwan para os seus semicondutores. E interesse em aprender com os chineses, que estão à frente no que respeita a desempenho (autonomia, tempo de carregamento, rede de recarga, etc.), “software” e rapidez de desenvolvimento (1,5 a 2 anos contra 3 a 5 anos). A relação com a China deve ser objeto de reflexão. Fechar-lhe a porta seria a pior resposta possível”, alerta.

 

“As nossas empresas precisam de enfrentar os desafios tecnológicos e geopolíticos. Acredito muito em esforços conjuntos e nas parcerias público-privadas. A Europa conseguiu melhor com a Airbus. Ao multiplicar as cooperações, a nossa indústria estará no caminho da revitalização”, refere.


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