Na comemoração dos 125 anos da Fiat, em Turim, Itália, na “casa” da marca, juntou a alta cúpula da Stellantis, com Carlos Tavares, diretor-geral do consórcio, a aproveitar para lançar algumas mensagens à classe política do país, representada por Adolfo Urso, ministro para a Indústria e o “Made in Italy”. Entre as frases marcantes do executivo português, o pedido de "respeito" por empresa que tem muito futuro, frase sublinhada por coro de aplausos.
O passado, presente e o futuro cruzaram-se em Turim, para as comemorações do 125º aniversário da Fiat. Aliás, não deixa de ser emblemático que, em marca com tanta história, não falte um sentido tão forte de atualidade e de futuro, com todos os responsáveis da marca transalpina a enaltecerem a capacidade da marca de se adaptar a cada momento e transformação da sociedade ao longo de mais de um século – dos primórdios da mobilidade às dificuldades causadas por guerras e ao desafios apresentados pela eletrificação e pela globalização.
Realizado na o icónico edifício do Lingotto, que foi a primeira área de produção da Fiat, a celebração dos 125 anos da marca serviu de ponto de situação para o momento atual, mas também de preâmbulo para os anos vindouros, nomeadamente para uma marca que tem raízes bem profundas na sociedade italiana, como vincaram todos os participantes no evento, desde Carlos Tavares, CEO do Grupo Stellantis, a Adolfo Urso, ministro da Indústria e “Made in Italy”, naquele que terá sido um dos poucos pontos em que os oradores concordaram: a Fiat faz parte do legado de Itália e a sua existência é fundamental para o país.
A presença de Urso neste evento não deixou de gerar alguma curiosidade, tratando-se de ministro do executivo de Giorgia Meloni que se tornou mais conhecido no meio automóvel nos últimos tempos por apertar a malha aos veículos da Stellantis produzidos fora de Itália, mas com denominação ou decorações evocativas do país – o Alfa Romeo Milano passou a Junior e as bandeiras de Itália em mais de 130 Topolino foram removidas para evitar desavenças legais.
Manter o empenho em Itália
A importância de manter a malha produtiva e laboral em Itália também foi um dos aspetos em que Urso e Tavares coincidiram, mas o CEO português não deixou de apontar que a Fiat é uma das principais contribuintes atuais para os esforços de exportação em Itália e que está na linha da frente para efetuar a transição para a mobilidade sem emissões num mundo repleto de grandes desafios.
“As nossas marcas são são pedras preciosas e adoramos todas. Temos marcas britânicas, americanas, alemãs, francesas, chinesas – com a Leapmotor – e, claro, as nossas amadas marcas italianas, que levam qualidades italianas, Fiat, Alfa Romeo, Lancia e Maserati, que levam os sabores italianos dos nossos clientes em todo o mundo. A Fiat é uma história de amor e de resiliência, que sobreviveu a diferentes regimes políticos e guerras diferentes e saiu sempre mais forte. O seu coração tem batido aqui há 125 anos e vai continuar a fazê-lo para o futuro”, argumentou Carlos Tavares, referindo ainda que “pelo terceiro ano consecutivo, a Fiat foi a marca número um da Stellantis em termos de volume, com 1.35 milhões de unidades vendidas” e que é líder em diversos mercados, como na Itália, Brasil, Argélia e Turquia. “Cerca de 70% dos Fiat vendidos a clientes italianos são produzidos em Itália e cerca de 59% dos Fiat produzidos em Itália são exportados, ajudando a suportar a balança comercial da exportação de automóveis do país”, sublinhou.
Fazendo também questão de agradecer aos empregados e funcionários da companhia por todo o seu esforço e empenho, Carlos Tavares garantiu que “a Fiat é uma família humilde e trabalhadora, que partilha a mesma paixão e o mesmo desejo de ser inovadora, ágil e humanista, dando-nos capacidades para entender o mundo e fazer os clientes sorrirem. Obrigado aos concessionários e também aos fornecedores para oferecerem as melhores soluções de mobilidade com o melhor custo. Tudo o que a Fiat alcançou foi com base nestes esforços”.
Sobre este pano de fundo, Tavares pediu, por mais do que uma vez, “respeito para com a Fiat”, marca que apelidou de “herói, com mais de 40 mil funcionários em Itália e da qual Turim é o coração que bate”, entrando aqui na questão do empenho para com o país, aparentando responder ao pedido anterior de Adolfo Urso, que requisitou um “sentido de responsabilidade nas decisões” por parte de quem as toma no fabricante automóvel.
Nessa linha, Tavares recordou que a Fiat tem em curso um forte investimento em diversas infraestruturas no país, como a fábrica para as novas caixas e-DCT, o centro de tecnologias de bateria, a continuidade de produção de vários modelos localmente (Panda já confirmado até 2027 em Pomigliano d’Arco ou o novo 500 híbrido em Mirafiori), os centros dedicados à mobilidade e a área de veículos comerciais e setor profissional (Pro One), entre outros. Mas, também fez questão de apontar a circunstância inegável de um segmento em mutação.
“Devemos convencer-nos de que a competição mundial está a intensificar e lidar com o facto de que o “status quo” já não serve. Se não nos adaptarmos, iremos desaparecer. Isso não é uma opção que consideramos. É por isso que estabelecemos uma visão para o futuro e para o futuro estratégico a longo plano. No plano para o futuro continuamos comprometidos com a mobilidade acessível, segura e limpa. Hoje somos o número 3 no mercado europeu dos BEV e lutamos pelo segundo lugar com a marca americana que todos conhecemos. Mas precisamos de soluções globais e de entidades globais como a Stellantis. Estamos a entrar numa nova era de luta contra as alterações climáticas e em linha com a neutralidade carbónica antes de todos os nossos rivais”, afirmou, antes de traçar o caminho para o futuro.
“Muito do legado de uma marca é definido pelo que vem a seguir e tenho grande confiança de que muito ainda vai ser alcançado pela Fiat. Tenham orgulho na marca Fiat, na sua história, nos seus fundadores e nos seus empregados tanto como eu. Respeitem a Fiat porque a Fiat vai sobreviver a todos nós”, concluiu o responsável máximo pela Stellantis.
A marca da “relevância social”
Na mesma linha de pensamento, Olivier François, CEO da Fiat, destacou os feitos da marca no passado e as dificuldades por que passou ao longo das décadas, não deixando de mencionar os esforço do malogrado Sergio Marchionne, que foi o CEO da Fiat Chrysler Automobiles (FCA) antes da fusão entre FCA e PSA.
“Turim é um dos corações da Stellantis, juntamente com Detroit e Paris"
"Recordando as palavras de Sergio Marchionne, a Fiat é a marca da relevância social. Por exemplo, o antigo 500 foi um sinal de mobilidade para a sociedade de então. A Fiat entrega a sua própria formula de carros acessíveis, icónicos e até um pouco aspiracionais com um ADN distintivamente italiano. É através desta fórmula que nos tornamos líderes em três continentes”, referiu este francês que se confessa já italiano de espírito.
Adicionalmente, ainda em termos de passado, François recordou a receita muito bem-sucedida de automóveis produzidos em países que não a Itália, como os 124 e 127, tendo esse sido um critério fundamental para a Fiat se ter tornado numa companhia globalmente reconhecida. “Foram sucessos mundiais: modelos produzidos em qualquer lugar e vendidos em qualquer parte do mundo”, realçou.
Para os próximos anos, advoga uma gama de produtos mais avançada, orientada pelo design e pelo cliente (que considera ser o “centro de tudo”).
O Grande Panda está já em perspetiva, tratando-se de modelo de desenho inspirado no Panda da década de 1980 e que recorre a alguns dos principais pontos fortes da Stellantis, como a plataforma global modular ou à eletrificação.
“Mas mais modelos estão a caminho. São uma realidade concreta para voltar ao plano global, com design italiano, plataformas globais e relevância regional”, afiançou.
Raízes do passado
Da família Agnelli, John Elkann, atualmente Chairman da Stellantis, recordou aquilo que a Fiat ofereceu à sociedade italiana ao longo destes 125 anos, lembrando o seu avô, Giovanni Agnelli, e a forma visionária de produzir automóveis.
A Fiat começou a produzir carros acessíveis para todos, algo parecido com o que fazemos ainda hoje. A Fiat representou para milhões de pessoas a liberdade de movimentos.
“Celebramos os 125 anos desta marca nascida no coração de Turim com essa característica tão única de criatividade italiana, de criar muito com pouco. A Fiat nasce dessa combinação da paixão pelo progresso e pela capacidade de engenharia que tem sido evoluída. Das mais de 100 marcas italianas que surgiram no início do século XX, a Fiat foi das poucas que fez a transição de uma marca artesanal para uma marca industrial. Após uma viagem a Detroit, o meu avô ficou impressionado com a capacidade de produção da Ford e decidiu criar o Lingotto, esta fábrica onde estamos hoje e que foi fundada em 1923 e anunciou na época que seria uma grande fábrica capaz de concorrer com as marcas nacionais e estrangeiras, para conseguir preços mais baixos".
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