O arrefecimento da procura de automóveis elétricos na Europa está a levar a Porsche à adoção de estratégia de eletrificação menos ambiciosa, prevendo-se agora que surjam mais versões com motores de combustão e híbridos, mesmo em modelos que tinham só motorizações alimentadas por baterias, o que poderá exigir a adaptação da plataforma para a acomodação das mecânicas térmicas.
Na resposta ao abrandamento do mercado de veículos elétricos na Europa e nos Estados Unidos da América, a Porsche está a alterar a sua estratégia de eletrificação, preparando a chegada de variantes com motor de combustão e híbridos para gamas de modelos que foram criadas originalmente como elétricos.
Tendo sido uma das primeiras marcas de desportivos a encetar o caminho da eletrificação – até mesmo com o lançamento recente do 911 híbrido –, a Porsche tem na calha uma nova geração de modelos elétricos que visa acentuar o seu compromisso para com os elétricos.
Porém, o facto de as vendas do Taycan não “descolarem” e o clima de abrandamento das vendas de elétricos deverão ser circunstâncias suficientes para levar a marca alemã a recuperar os seus motores de combustão interna (e híbridos) até para modelos que foram desenvolvidos de raiz para albergar apenas motorizações elétricas.
Adaptação à vista
Recorde-se que a Porsche desenvolveu (em conjunto com a Audi) a plataforma PPE para os seus elétricos desportivos “premium”, sendo esta a base já para o novo Macan, cujo lançamento está iminente. No entanto, de acordo com o responsável financeiro da marca, Lutz Metschke, na conferência de divulgação de resultados, “muitos clientes nos segmentos premium e de luxo estão a olhar na direção dos carros com motor de combustão, é uma tendência clara. Vamos refrescar os nossos carros com motor de combustão, incluindo os Panamera e Cayenne e, claro, vamos continuar a confiar nos híbridos ‘plug-in’”.
Mais surpreendente foi a informação de que a marca terá capacidade de adaptar os seus modelos elétricos para receberem motores de combustão para atender aos clientes que procuram versões do género.
“Vamos desenvolver novas derivações com motor de combustão interna de forma a dar a resposta certa à procura dos clientes”, adiantou Metschke, sem dar mais indicações a este respeito. Outra possibilidade poderá passar pela manutenção no mercado de modelos atualizados do Macan e da gama 718 a combustão, embora seja necessário também atualizar os modelos para cumprirem com as normas de segurança de conectividade impostas pela União Europeia e que serviram de motivo para terminar as vendas do Macan este ano. Esta opção teria custos de desenvolvimento potencialmente bastante inferiores aos de adaptar uma plataforma para acomodar motores térmicos quando não foi desenvolvida para tal.
Vendas complicam elétricos
Desde o lançamento do Taycan que a Porsche foi adaptando as suas metas relativas ao “mix” de vendas de elétricos, chegando a apontar que os elétricos iriam representar 80% do total de veículos vendidos em 2030. Essa estratégia assentou na boa aceitação inicial do Taycan, levando a companhia de Estugarda a decidir-se pela produção de novas gerações do Macan e dos 718 Boxer e Cayman apenas como elétricos, ao mesmo tempo que o investimento nestas tecnologias acelerou, nomeadamente com o desenvolvimento da plataforma PPE e de novos motores elétricos.
Porém, de acordo com os últimos dados de vendas, as vendas globais do Taycan caíram 50% entre janeiro e setembro de 2024, matriculando-se 14.042 unidades, o que também pode ser explicado pela fase de transição entre modelos – a Porsche lançou a atualização do Taycan este ano e muitos clientes poderão ter adiado a compra para obterem a versão mais recente e potente.
O intemporal 911 mantém-se como um dos modelos mais fortes da Porsche, com o desportivo a representar 39.744 unidades (crescendo 2%) entre janeiro e setembro.
Aliás, a própria marca aponta esse fator (a disponibilidade limitada de algumas gamas) como uma razão para o decréscimo de 7% nas vendas globais face ao ano precedente. Recorde-se que também o Macan está em fase de transição, com as vendas da versão de combustão a pararem no primeiro semestre e o lançamento da nova geração (meramente elétrica) a fazer-se apenas recentemente.
Efuels na solução
O passo mais lento da Porsche no que diz respeito ao fim dos motores de combustão na sua gama poderá estar igualmente relacionado com a aposta da marca no desenvolvimento de combustíveis sintéticos (efuels), sendo uma forte defensora da inclusão deste combustível sustentável no lote de opções técnicas no quadro europeu da obrigatoriedade das emissões zero em 2035.
A Porsche tem em vigor um projeto-piloto no Chile para a produção de combustíveis sintéticos mais sustentáveis que são criados a partir da captura do CO2 da atmosfera e da sua conversão posterior em combustível que, de forma ideal, promete emissões poluentes próximas de zero. Mas outras marcas estão também a olhar para esta solução com grande atenção, sobretudo aquelas que têm nos automóveis de combustão uma questão de tradição, como é o caso da Lamborghini, Bentley ou Ferrari.
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