No Scenic E-Tech 100% Elétrico, “cockpit” digital com “hardware” e “software” de ponta. E, assim, sim a marca do losango apresenta argumento para contestar “bandeira” da Tesla, o fabricante norte-americano que "declarou guerra" aos construtores europeus ! No SUV compacto, existem outras atrações, mas apresentamos-lhe "apenas" a mais importante.
A Tesla tem o estatuto de marca de moda, aproveitando (muito bem!) a introdução de regulamentação nova na Europa que obrigou a acelerar o ritmo da eletrificação, mas conseguiu-o, também, com a digitalização do automóvel. E esta combinação tecnológica, por contribuir para experiências de condução e utilização diferentes, proporcionou-lhe vantagem competitiva importante que capitalizou – prova-o, por exemplo, a primeira posição do Model Y no topo das vendas em 2023!
A vantagem do fabricante norte-americano deve-se, principalmente, à capacidade do “software”, mas a corrida à supremacia neste domínio está apenas no início, de acordo com a maioria dos analistas, com muitos especialistas a assegurarem que a superioridade da marca de Elon Musk quer na digitalização, quer na eletrificação admite contestação. Atualmente, todas as marcas têm (ou preparam) arquiteturas elétricas e eletrónicas novas, com a Tesla “debaixo de olho”.
A Renault, à quinta geração do Scenic, não muda apenas o formato da carroçaria, substituindo o MPV (monovolume) na gama desde 1995 pelo Sport Utility Vehicle (SUV) que também é dominante nas vendas no Velho Continente, por representar mais de metade das vendas de automóveis novos, somando-lhe a particularidade de só contar com versões elétricas (E-Tech). Mas, aqui, importa-nos, sobretudo, o conteúdo tecnológico de modelo que ambiciona competir com o Model Y e ganhar o estatuto de referência entre os compactos. Ponto de partida: em painel que não é muito diferente do que encontramos no Megane E-Tech, monitores digitais para a instrumentação e o programa multimédia (o primeiro tem 12,3’’ e o segundo 12’’ e posicionamento vertical), e a versão mais atual dos sistemas Android Automotive, com funções otimizadas ou novas, com aumento de capacidade no planeamento de viagens ou no reconhecimento de voz – anuncia-se mesmo a resposta (rápida) a cerca de 70 ordens de comando, o que tem de considerar-se impressionante!
O Google Assistant integrado no OpenR Link, vocalmente, permite-nos controlar a temperatura ambiente e o aquecimento dos bancos ou do volante, descongelar os vidros, monitorizar a autonomia de combustível ou o nível de carga remanescente na bateria, ler, responder ou enviar mensagens de texto, procura destinos e buscar pontos de interesse durante as viagens, efetuar telefonemas, monitorizar o estado do tráfego, ouvir músicas, “podcasts” ou notícias e, ainda, selecionar os modos de condução do Multi-Sense. Obviamente, a marca do losango também desenvolveu aplicação específica (My Renault) para consulta de informações e controlo remoto de várias funções de automóvel com versões que percorrem mais de 600 km (625, para sermos rigorosos), iniciando a macha com o acumulador de energia a 100%.
Experiência a bordo
O Scenic E-Tech 100% Elétrico, modelo que confirma o pioneirismo da Renault no domínio dos automóveis elétricos, facto que explica a eficiência, a leveza e o nível de sustentabilidade de SUV que pode reciclar-se a 90% (contando com a bateria!), apresenta-se equipado com a versão mais recente do sistema multimédia OpenR Link, que integra, também, funções como o planeamento de rotas, com pontos de paragem para recarregamento da bateria, e programas que aumentam a eficiência na redução e diminuem a sinistralidade, como o Safety Score, o Safety Coach ou o Safety Guardian. O “software” é o Android Automotive OS 12 e inclui pacote muito completo de serviços da Google. Tudo somado, experiência fora de série (também na facilidade de utilização ou na rapidez de resposta) e utilização quase igual à de um “smartphone”, o que torna a adaptação do condutor bem menos complexa do que acontecia num passado não muito distante.
No OpenR Link, devido à ligação a conta Google, os utilizadores encontram locais favoritos no Google Maps, por isso não existindo perdas de tempo com processos de busca ou de localização dos destinos frequentes. Complementarmente, devido à possibilidade de acesso ao Google Play, mais de 100 aplicações disponíveis para transferência, muitas pensadas para desfrutarmos do tempo no Renault.
O sistema OpenR Link admite atualização remota e é compatível com Android Auto e Apple CarPlay.
A Renault, com sistema que integra monitor muito semelhante a “tablet”, também cumpre a promessa de experiência de utilização intuitiva e simples, sobretudo por beneficiar de função de reconhecimento de voz que admite mais de 70 comandos vocais! O OpenR Link tem atualizações remotas, é compatível com Android Auto e Apple CarPlay, e funciona com e sem fios. No entanto, para adaptação progressiva à tecnologia e menos complexidade na operação dos comandos, a marca decidiu-se pela manutenção de mão cheia de comandos físicos, que encontramos abaixo do ecrã do sistema multimédia, para controlo da climatização, abertura e fecho de portas e acionamento das luzes de emergência.
No caso do Scenic E-Tech 100% Elétrico, possibilidade de planeamento de viagem que necessite de paragens para recarregamentos da bateria. Esta funcionalidade, de forma autónoma, toma as decisões mais inteligentes, incluindo na preparação da temperatura do acumulador de energia, de forma a prepará-lo para a operação, o que otimiza os tempos de deslocação, por reduzi-los! O sistema novo considera até as informações meteorológicas, incluindo direção e velocidade do vento, com o propósito de calcular a autonomia do SUV com mais precisão e realismo.
No Scenic E-Tech 100% Elétrico, “cockpit” OpenR Link com dois monitores digitais numa superfície contínua em forma de “L”: o ecrã da instrumentação encontra-se posicionado na horizontal e tem 12,3’’, o do sistema multimédia está arrumado na vertical e mede 12’’. O SUV novo da Renault tem pacote completo de assistências à condução (ADAS), por isso apresentando a classificação de Nível 2 de Condução Autónoma (existe botão que permite desativar os apoios que selecionarmos), não dispensa o programa de modos de condução Multi-Sense (comando no volante) e dispõe de Inteligência Artificial para a apresentação de sugestões que valorizam a experiência a bordo tanto do condutor como dos passageiros – entre outras ações, incluindo muitas dependentes da avaliação dos comportamentos ao volante, esta tecnologia propõe-nos a ativação do ar condicionado ou o fecho das janelas.
Tesla, protege-te! A Renault, nesta “empreitada”, não está sozinha. Existem outros fabricantes empenhadíssimas na reinvenção dos painéis de bordo, aproveitando a “boleia” da eletrificação para trabalharem mais e melhor na digitalização.
Duas décadas de progressos
Quase tudo o que encontramos na geração nova de automóveis da Renault, com o Scenic E-Tech 100% Elétrico como porta-estandarte, não surgiu do nada. A marca tem muitos anos de trabalho nos campos da informação e do entretenimento, por exemplo, com a conetividade a aparecer apenas mais recentemente. Os sistemas multimédia com monitores integrados nos painéis de bordo entraram em cena nos primeiros anos da década de 2000 como substitutos do autorrádio. Originalmente, recordamo-lo, comandavam-se de forma manual ou em botões na consola ou no volante. Depois, registou-se desenvolvimento tecnológico relevante e passaram a contar com controlos táteis.
Os sistemas multimédia com monitores integrados nos painéis de bordo entraram em cena durante a década de 2000 e ponto final na carreira dos autorrádios!
“Estávamos em 2007, com a programa de desenvolvimento do Clio IV entre mãos! Foi difícil convencer a direção da marca a adotá-los. Por essa razão, durante muito tempo, privilegiámos a redundância, com a manutenção de controlos tradicionais no volante», relembra Stéphane Maiore, do Design de Interiores da Renault. Assim, melhorando-se a ergonomia, promoveu-se o conforto, a facilidade de utilização e, também, a segurança na condução.
A indecisão da direção da Renault fez com que a marca estreasse os monitores no centro do painel de bordo somente em 2013, precisamente no Clio IV (e no Zoe). À época, o ecrã tinha 7’’ e o condutor selecionava as funções integradas no sistema multimédia R-Link, nomeadamente o rádio, a navegação e diversas configurações do automóvel. A mudança para equipamentos táteis registou-se ainda nesse ano, depois de experiência malsucedida com “joystick” de controlo da operação, ainda que facilitasse a navegação no “software”.
Seguiu-se, em 2014, a adoção pela Renault dos monitores táteis verticais. Fê-lo no Espace V. O ecrã tinha 8,7’’ e, mais uma vez, para acompanhamento de tendência cada vez mais na moda, pretendia-se que a experiência de utilização fosse (muito) parecida à que os condutores conheciam dos “smartphones” pessoais. Paralela e simultaneamente, a Internet também entrava no automóvel, com a conetividade a permitir número maior de funções e serviços, como as informações de trânsito em tempo real, as previsões meteorológicas e as pesquisas de navegação.
"Em 2010, a título experimental, colámos um iPad no painel de bordo para vermos como funcionava o posicionamento vertical. Como os resultados foram positivos, tornámo-nos pioneiros nesse formato e nessa orientação", recorda Maiore. Então, conscientes da rapidez do desenvolvimento tecnológico, os “designers” da marca francesa já preparavam os passos seguintes, incluindo a coabitação de dois ecrãs no “tablier”. Durante o processo de estudo, também observaram a necessidade de direcionar o do sistema multimédia para o condutor, por melhorar a ergonomia e a segurança na condução.
Porém, antes da passagem à produção em série dos dois monitores posicionados em forma de “L” no painel de bordo, a exemplo dos que encontramos no Scenic E-Tech 100% Elétrico, a Renault experimentou-os em estudos como o TreZor (2016), o Symbioz (2017) ou o Morphoz (2019).
Comments