O maior dos Mini está maior do que nunca, mais ousado do que nunca, mais espaçoso do que nunca. Na sua derivação mais desportiva, o Countryman, na geração nova, perde apenas no rendimento e nas prestações, mas o “prejuízo” (esse, sim, mini!…) não é de molde a retirar-lhe um encanto muito especial
Nova geração do Countryman, com diferentes abordagens por parte da marca (cada vez menos, que até já começou a produzir automóveis na Alemanha) britânica do Grupo BMW, consoante de trate das suas versões 100% elétricas, ou equipadas com motores de combustão: plataforma inédita no caso das primeiras, evolução da anterior nas segundas. Para primeiro teste, o importador nacional da Mini decidiu disponibilizar a derivação a gasolina de topo, na forma do John Cooper Works Countryman ALL4.
Nota introdutória: um mero primeiro vislumbre é suficiente para perceber que, no que ao tamanho diz respeito, o SUV do construtor originário de Oxford, de “mini”, nada mais tem do que o nome. Está maior do que nunca (cresceu mais de 14 cm em comprimento, mais de 2 cm em largura e entre eixos, e mais de 6 cm em altura), e o seu arrojado, e aerodinâmico (Cx de 0,26), visual exterior não parece ter tido como intuito disfarçar o assinalável porte exterior. Pelo contrário!
Quanto ao estilo impositivo, que já pouco tem em comum com o Mini do “renascimento”, lançado do virar do milénio, há quem goste, e outros nem tanto, mas poucos lhe ficam indiferentes, em boa parte devido aos marcantes grupos óticos dianteiros e traseiros. Com a variante mais desportiva a impor a sua presença também por via da decoração específica, a condizer com a sua vocação; do logótipo JCW presente um pouco por toda a parte (grelha, tampas dos cubos das rodas, terceiro vidro lateral, portão traseiro); das jantes de 19” (por €720, de 20”, como na unidade testada, revestidas por pneus Pirelli P Zero, de medida 245/40); e dos vários elementos em vermelho.
Espaço para (quase) tudo
Uma vez a bordo, é evidente o fácil acesso a todos os lugares, e que o aumento das dimensões exteriores melhorou significativamente a habitabilidade em todos os sentidos. A capacidade da mala varia entre uns mais do que convincentes 505-1530 litros, embora o transporte de objetos mais volumosos, com toda a lotação disponível, seja condicionado pelo facto de o acesso ao enorme vão existente sob o piso efetuar-se através de uma plataforma articulada que não é possível remover, ou sequer colocar num plano mais baixo.
A vertente prática também deve ser avaliada do ponto de vista do condutor, que diante de si apenas tem um pequeno head-up display, alegadamente inspirado na aviação militar, destinado a fornecer informações essenciais. Praticamente tudo o resto é visualizado, e operado, no enorme ecrã central tátil redondo, pois os únicos interruptores físicos que existem são os destinados a aceder diretamente aos sistemas avançados de assistência à condução, e a ativar as câmaras exteriores e o desembaciamento do óculo traseiro e do para-brisas.
A boa notícia é que o sistema de infoentretenimento é tão evoluído e completo que dava, por si só, para escrever um “tratado” capaz de ocupar todas estas páginas. Funções, funcionalidades e gadgets (visuais e acústicos) não faltam, chegando a impressionar a sofisticação das animações. Mas também há espaço para melhorias: a resposta do sistema nem sempre é tão rápida quanto o desejável, nem o seu funcionamento tão intuitivo e óbvio quanto o ideal; conta-rotações só no ecrã central, mesmo no modo de condução mais dinâmico; e alguns gráficos e avisos sonoros são demasiado juvenis, quando não infantis…
O que não merecerá reparos é o assinalável nível de qualidade geral, nem a decoração interior dominada pelo preto e pelo vermelho, bem mais consensual do que o design exterior, e em que se destacam elementos como as pegas das portas verticais, e as saídas de ventilação, em alumínio; ou a rede que reveste a secção superior dos painéis das portas e do tablier (neste último caso retroiluminada, mudando a cor da iluminação em função dos modos de condução selecionados). Já o posto de condução, elevado e dominante, tipicamente SUV, beneficia de bancos dianteiros com encostos de cabeça integrados e um razoável encaixe, mas menos apoio lateral que o esperado num JCW; do volante desportivo, com dimensões e pega excelentes; e da pedaleira em aço inoxidável.
Questão de perspetiva
Dinamicamente, há duas formas de encarar o novo Mini John Cooper Works Countryman ALL4. Se é indesmentível que o conhecido quatro cilindros turbo de 2,0 litros, com injeção direta de gasolina, 306 cv e 450 Nm, perdeu 6 cv e 50 Nm face à pretérita geração, o que, em conjunto com um aumento do peso da ordem dos 60 kg, muito ajuda a explicar o ligeiro retrocesso nas acelerações. Não é menos verdade que 5,4 segundos nos 0-100 km/h (5,1 segundos no modelo anterior), e 250 km/h de velocidade máxima, não são valores desprezíveis, para mais porque o desempenho dinâmico dificilmente encontra rival a este nível.
5,4 segundos nos 0-100 km/h, e 250 km/h de velocidade máxima
Mas, antes, menção para os consumos, porque comedidos a velocidades legais e estabilizadas (média ponderada de 7,38 l/100 km em condições reais de utilização), e inferiores a 10,0 l/100 km quando numa utilização mais “solta” e dinâmica (a “fundo”, são o que se espera de um modelo com este nível de rendimento). E para o bom desempenho da caixa pilotada de dupla embraiagem e sete velocidades (a única disponível), seja numa toada calma, seja a ritmos mais intensos.
Fácil e agradável de conduzir enquanto SUV familiar, também porque apto a garantir um assinalável conforto de marcha (o amortecimento pilotado ajuda), é quando se adota uma atitude mais “endiabrada” que o mais desportivo dos Countryman exibe todos os seus dotes. Para isso, é bom selecionar, de entre os sete modos de condução disponíveis (a que a Mini prefere chamar “Experiences”), o denominado Go-Kart, e configurar o controlo de estabilidade (DSC Sport, DSC Sport Plus ou DSC Off), a resposta ao acelerador (Comfort, Sport ou Sport Plus), e a direção (Comfort ou Sport) – sendo, ainda, possível definir diversos parâmetros de visualização e sons associados.
Aqui chegados, sublinhe-se que o motor prima por ser sempre mais linear e progressivo do que, propriamente, explosivo, até quando se ativa a função Boost (mantendo premida a patilha esquerda de comando da caixa), que, durante 10 segundos, permite desfrutar do máximo potencial da mecânica. Mas nem por isso deixa de ser um automóvel muito veloz, e senhor de um comportamento referencial: direção rápida, direta e informativa, travões competentes, chassis muito bem afinado para permitir elevadas velocidades de passagem em curva, com os excessos de otimismo a serem, as mais das vezes, devidamente geridos pelo sistema de tração integral, fundamental para um desempenho não menos meritório em pisos de baixa aderência. Já o todo-o-terreno, com uma suspensão rebaixada 10 mm face à dos restantes Countryman, e pneus de baixo perfil, talvez não seja o habitat natural desta versão.
Chassis muito bem afinado para permitir elevadas velocidades de passagem em curva
Palavra final para o preço: se os Mini “pós-ano 2000” nunca foram baratos, este não foge à regra, e exige o dispêndio, no mínimo, de 60.350 €. O opcional Pacote XL presente na unidade testada custa 8.170 €, e, basicamente, inclui várias mordomias, sendo o único elemento verdadeiramente capaz de melhorar a experiência de condução desportiva o sistema de travagem de alta performance.
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