A indústria automóvel, sem surpresa, manifestou-se quase em uníssono contra a votação da Comissão Europeia que aprovou o aumento das taxas aduaneiras pagas pelos elétricos “made in” China, certamente por temer todas as consequências das represálias (previsíveis) de Pequim à decisão de Bruxelas. Entre os críticos, o “patrão” da BMW, Oliver Zipse.
A Comissão Europeia (CE), esta sexta-feira, votou favoravelmente o aumento das taxas aduaneiras a pagar pelos automóveis elétricos importados da China, com o agravamento da tarifa a poder atingir os 35%, montante que soma aos 10% que já pagos. Após o anúncio de decisão que não surpreendeu, por antecipar-se desde o início da investigação de Bruxelas aos apoios financeiros de Pequim à exportação para o mercado europeu, fabricantes, grupos de pressão e até ministros de vários estados-membros da União exigiram mais negociações entre as partes, de modo a conseguir-se acordo que evite uma guerra comercial sem vencedores, informou o Automotive News Europe, recorrendo a fontes citadas pelas agências Reuters e Bloomberg.
Vários estados-membros da União Europeia exigiram mais negociações entre as partes para acordo que coloque ponto final nas divergências económicas e financeiras com a China.
Para Oliver Zipse, administrador-delegado do Grupo BMW, o resultado da votação pode comprometer o futuro da indústria automóvel europeia, que depende muito das operações comerciais e industriais na China, o maior mercado mundial, tanto mais que Pequim ameaçou retaliar para proteger as empresas do país. Os direitos aduaneiros novos não serão aplicados antes de 30 de outubro, distância de tempo que representa uma “janela de oportunidade” para mais negociações.
Atualmente. UE e China estudam a possibilidade de acordo sobre a introdução de mecanismo para controlo dos preços e dos volumes de exportação que elimine as taxas aduaneiras. Ursula von der Leyen, Presidente da CE, é defensora das tarifas, por entender que os automóveis elétricos são importantes para a competitividade e a liderança tecnológica da Europa na área da mobilidade. “Quanto temos provas de concorrência desleal, temos de atuar de forma decidida”, disse a alemã.
“A Alemanha votou contra esta decisão, o que aumenta a possibilidade de acordo negociado”, afirmou Oliver Zipse, administrador-delegado da BMW e ex-presidente da associação de fabricantes europeus (ACEA), organização que atua como grupo de lóbi. O iX3 da marca alemã é fabricado em Shenyang, China, o que expõe o SUV elétrico ao pagamento de mais taxas aduaneiras (atualmente, a tarifa é de 10% e o imposto novo soma-se a este montante…).
O Grupo Volkswagen tem cerca de 40 fábricas na China e também apelou à UE e à China para “prosseguirem as negociações de forma construtiva, para encontrarem ‘saída’ política para o conflito comercial. A nossa posição mantém-se: o recurso a mais impostos não melhora a competitividade da indústria automóvel europeia”, argumentou o consórcio alemão em comunicado. A Mercedes-Benz alertou para os impactos (muito…) negativos da decisão e também pediu acordo negociado e o adiamento da implementação das taxas aduaneiras novas.
Os fabricantes chineses de automóveis elétricos encontram-se confrontados com tarifas provisórias desde julho, mas muitos conseguiram pagar bem menos do que o determinado pela UE – as reduções variaram entre os menos de 10% e os menos 35% –, em função do nível de cooperação com as autoridades europeias durante o processo de investigação desencadeado por Bruxelas.
Os fabricantes chineses mais ativos na Europa, também sem surpresa, criticaram a votação, incluindo a Geely, a empresa proprietária de Volvo, Polestar, Lynk & CO, Zeekr, Lotus ou Smart. “Estamos desapontados com a decisão. Não é construtiva, dificulta as relações comerciais e económicas entre UE e China, e prejudica tanto as empresas europeias como os interesses dos consumidores”, argumentou.
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