A proposta da Comissão Europeia (CE) para aumentar as taxas aduaneiras a pagar pelos automóveis elétricos importados da China contou com o número suficiente de votos favoráveis de estados-membros da União (10). A Alemanha, seguramente por temer represálias de Pequim, encontra-se entre países que disseram “não” (5), enquanto os outros 12, incluindo Portugal, optaram pela abstenção. A decisão não encerra as negociações entre europeus e chineses.
De acordo com comunicado da CE, até dia 30, registo do regulamento para adotar por período de cinco anos, independentemente de Bruxelas e Pequim anunciarem que continuam a conversar sobre o tema, com o objetivo de encontrarem solução alternativa compatível as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC). Esta decisão aconteceu depois de investigação europeia concluir que a China estava a subsidiar a indústria automóvel, o que distorcia os princípios da concorrência, informou o Automotive News Europe, que fez eco de notícias das agências Reuters e Bloomberg.
Pequim nega todas as “acusações” de concorrência desleal apresentadas por Bruxelas.
Pequim nega todas as “acusações” de Bruxelas e deve reagir de forma igual, isto é, introduzindo taxas aduaneiras novas (e, obviamente, maiores!), às importações da Europa, nomeadamente de automóveis. E as vendas na China, o mercado número um do Mundo, são determinantes para as operações comerciais e industriais e os resultados financeiros de muitos construtores europeus, razão por trás da posição da Alemanha, que teme as “ondas de choque” do resultado de votação que dividiu os estados-membros.
Curiosamente, entre os países que votaram a favor da introdução das tarifas, dois pesos-pesados da indústria automóvel, França e Itália. Também do lado do “sim”, Bulgária, Dinamarca, Estónia, Irlanda, Letónia, Lituânia, Países Baixos e Polónia. A Alemanha contou com o apoio de Hungria, Malta, Eslováquia e Eslovénia. Portugal integrou a lista de abstencionistas, de acordo com a Bloomberg. Áustria, Bélgica, Croácia, Chipre, Espanha, Finlândia, Grécia, Luxemburgo, Roménia e Suécia.
UE e China mantêm negociações para encontrarem alternativas para resolução do diferendo comercial. Muito recentemente, Mario Draghi, o ex-presidente do Banco Central Europeu, publicou documento extenso sobre o futuro da Europa e em que alertava, precisamente, para os perigos da “concorrência patrocinada pelo estado chinês”. Em 2023, as trocas comerciais entre os dois blocos chegaram aos 739 mil milhões de euros.
Os automóveis importados da China já pagam taxas aduaneiras de 10%, mas esta votação pode originar aumentos nas tarifas para até 45%, pois o montante da taxa nova está dependente da cooperação que os fabricantes chineses tiveram durante a investigação europeia. Assim, os modelos da SAIC passam a pagar mais 35,3% e os da Geely mais 18,8%. As tarifas para os BYD são de mais 17% e para os Tesla de mais 7,8%. Os demais construtores cooperantes passam a pagar mais 20,7%.
O aumento das tarifas refletir-se-á nos preços dos carros elétricos produzidos na China.
Naturalmente, o aumento das taxas aduaneiras refletir-se-á nos preços dos carros elétricos e, por isso, muitos fabricantes, incluindo a Volvo (Geely), que faz o “best-seller” EX30 na China, procuram localizações na Europa para instalarem linhas de produção, “fórmula” de contornarem a barreira à exportação de automóveis para o Velho Continente. E muitas marcas europeias, nomeadamente alemãs, produzem na China os modelos elétricos que comercializam na Europa.
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