Carlos Tavares pediu a demissão do cargo de administrador-delegado do consórcio Stellantis, assim antecipando a saída de cena programada apenas 2026. O sucessor será anunciado durante o primeiro semestre de 2025. No imediato, John Elkann, de forma interina, assume o comando da companhia.
É o fim do primeiro capítulo na história da Stellantis. Responsável pela recuperação da PSA, depois da crise no início da década de 2010, e mentor da fusão com a FCA (Fiat Chrysler Automobiles), da qual resultou, em janeiro de 2021, a criação do consórcio industrial, o português, Carlos Tavares, 66 anos, decidiu abandonar o comando da empresa proprietária de Peugeot, Citroën, DS Automobiles, Fiat, Jeep, Chrysler Alfa Romeo e Maserati, entre outras marcas.
A decisão conheceu-se este domingo, com a Stellantis a anunciou que o Conselho de Administração liderado por John Elkann, aceitou o pedido de demissão apresentado por Tavares, que deixa o cargo de imediato. O português assumiu a liderança da PSA em 2014, negociou a compra da Opel à GM e iniciou a recuperação da marca alemã em 2017 e, em 2021, concretizou a fusão com a FCA.
John Elkann passa a comandar os destinos da Stellantis, que tem Comité Executivo Provisório novo para tomar todas as decisões no gigante automóvel até à nomeação do sucessor de Carlos Tavares, o que deverá acontecer na primeira metade de 2025, de acordo com comunicado em que é anunciado, também, que o processo de seleção já está a decorrer sob gestão de Comité Especial do Conselho de Administração.
“Agradecemos ao Carlos todos os anos de serviço dedicado e o papel desempenhado na criação da Stellantis, ou nas reestruturações da PSA ou da Opel. Colocou-nos no caminho para nos tornarmos líderes globais no nosso sector”, disse o Presidente da Stellantis, John Elkann. “Aguardo com muita expetativa a oportunidade de trabalhar com o nosso novo Comité Executivo Provisório, apoiado por todos os colegas, enquanto realizámos o processo de nomeação do novo administrador-delegado. E, juntos, garantiremos a implementação da estratégia da empresa”, concluiu.
Visões diferentes
Ao longo dos últimos meses vieram a público várias questões que começaram a erodir a posição de Tavares como líder da Stellantis, nomeadamente, o desempenho comercial e financeiro das marcas norte-americanas do consórcio, com problemas de vendas e acumulação de “stocks”, a dificuldade na definição da estratégia de eletrificação da empresa e, ainda, resultados operacionais aquém dos esperados.
Há algumas semanas, soube-se que Tavares deixaria o cargo em 2026
Há algumas semanas, soube-se que Tavares deixaria o cargo em 2026, no final do contrato. Porém, o fim da relação foi antecipado de forma significativa. Henri de Castries, diretor da companhia, “o sucesso da Stellantis baseava-se no alinhamento entre os acionistas de referência, a Administração e o administrador-delegado. Recentemente, confrontaram-se visões diferentes, situação na origem da decisão conhecida hoje”.
Carlos Tavares liderou a indústria automóvel na contestação à eletrificação do automóvel imposta pela União Europeia (UE), mas preparou a Stellantis para o cumprimento das regras determinadas por Bruxelas, por isso não “admitindo” a marcha-atrás na velocidade de implementação da política pedida por diversos concorrentes, facto que esteve na origem, também, da renúncia do português à presidência da associação europeia de fabricantes (ACEA).
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