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Foto do escritorAntónio de Sousa Pereira

BMW i7 M70 xDrive

Não é barato, mas esse pode até nem ser o seu principal pecadilho. No BMW i7 M70 xDrive, berlina de luxo 100% elétrica com prestações dignas de um verdadeiro desportivo, (quase) tudo é deslumbrante exceto… a autonomia. E menos ainda quando conduzido da forma para que terá sido concebido. Uma invejável montra tecnológica, com uma potencialmente diminuta aplicabilidade prática.



Sendo evidente, pelo menos para os que acompanham mais de perto a evolução do setor automóvel, que a transição para a propalada mobilidade 100% elétrica tem permitido criar com (relativa) facilidade modelos com níveis de potência e/ou binário que dificilmente deixarão alguém indiferente, nem por isso deixam, recorrentemente, de chegar ao mercado propostas capazes de impressionar neste capítulo (e noutros…). Ainda que, nalguns casos, seja, no mínimo, discutível a sua aplicabilidade prática.

 

O maior BMW alguma vez produzido em série

O maior BMW alguma vez produzido em série exemplifica isso mesmo na perfeição. Com o i7 M70 xDrive, a versão de pendor mais desportivo (tanto quanto o termo faça sentido neste segmento…) do seu topo de gama, seja qual for o tipo de motorização considerada (híbrida Plug-In a gasolina, Diesel ou totalmente elétrica), a marca de Munique foi mais longe do que nunca em diversos domínios, criando uma verdadeira montra tecnológica do (bem) saber fazer do seu departamento de engenharia, na forma de berlina de luxo a que é fácil sucumbir, e que é, sem dúvida, um dos expoentes máximos do setor em termos de sofisticação.



Relativamente ao estilo, tão inconfundível quanto impactante, até porque, ao invés de tentar disfarçar as generosas dimensões exteriores, como que faz gáudio do porte imponente, deixe-se que as imagens falem por si, que são bem ilustrativas. Não sem sublinhar que as óticas em cristal montadas na unidade testada custam 2180 € (apenas um dos seus muitos opcionais, num total de mais de 36.770 €!); e, mais importante, que o novo Série 7 está disponível apenas numa variante de carroçaria, com uma distância entre eixos superior à da variante longa da geração anterior do modelo, decerto a pensar nos mercados em que boa parte dos seus proprietários passarão mais tempo a ser conduzidos do que ao volante. Algo que, como é obvio, tem impacto direto no interior – inquestionavelmente, um dos seus trunfos mais substantivos.



Esmagador

Viajar a bordo do i7 M70 xDrive tende a ser algo fora do comum, e logo quando se entra ou sai do habitáculo, isto para quem tenha optado pelas portas de abertura e fecho automáticos (1560 €). Uma mera pressão num botão, no exterior, como no interior, basta para abri-las ou fechá-las, sendo o movimento automaticamente interrompido quando os sensores destinados ao efeito detetam um obstáculo (ou a aproximação a…), durante a operação. É uma função que, na prática, vale o que vale (também por ser mais demorada do que o tradicional movimento manual), mas não deixa de ser de belo efeito.



Face aos mais de 5,3 m de comprimento, aos quase 2,0 m de largura, e a uma distância entre eixos superior a 3,2 m, seria de esperar que a habitabilidade fosse notável, o que se confirma, nomeadamente na traseira, que mais parece um salão de festas. Mas há (muito) mais que faz com que apeteça ocupar os lugares de trás, e prova que quem aí viaja é, pelo menos, tão importante como quem conduz: nos puxadores das portas existem ecrãs tácteis de 5,5” para comandar um amplo leque de funções do veículo; os bancos traseiros podem dispor de múltiplas regulações eléctricas, aquecimento, ventilação, massagem e até de almofadas adicionais nos encostos de cabeça, para um repouso mais tranquilo; e, para o lugar traseiro direito, existe, ainda, uma função do tipo “lounge”, que oferece um lugar digno de uma primeira classe, quase uma cama – quando ativada, e de forma totalmente automática, o assento do banco do passageiro dianteiro avança, as respetivas costas são reclinadas 42,5º para a frente, e “emerge” um apoio de pés da base das mesmas; após o que avança o assento do banco traseiro direito, e as suas costas reclinam para trás.



A função “lounge” está incluída no Pack Executive Lounge (6900 €), de que também faz parte o sistema multimédia traseiro. Outro elemento com uma coreografia espetacular: do forro do tejadilho baixa um ecrã com não menos de 31,3” (formato 32:9, e resolução de 8K)! No modo Theatre, este sistema transforma a traseira numa espécie de sala de cinema, com ligações HDMI, entradas para dois auscultadores e plataforma Amazon Fire TV, para acesso a diversos serviços de “streaming” de áudio e vídeo, redes sociais e inúmeras aplicações, entre outros. Para tudo ser perfeito, e como a fatura já vai alta, é só gastar mais 6000 € num soberbo sistema de som da Bowers & Wilkins Diamond, com 35 altifalantes, e 1965 Watt de potência, e não restarão dúvidas de que viajar atrás pode ser tão bom, ou melhor, do que conduzir!



Se bem que quem ocupe os bancos dianteiros também não tenha sido esquecido. À qualidade de construção, materiais e acabamentos absolutamente irrepreensível, decisiva para criar um ambiente interior luxuoso e marcado por requinte e refinamento notáveis, juntam-se “mimos” como os vários comandos em cristal (seletores da regulação dos bancos, da transmissão e do sistema multimédia, tudo isto por 880 €); o chamado BMW Curved Display (composto pelo ecrã central de 14,9”, e pelo painel de instrumentos digital de 12,3”), para comando do soberbo sistema de infoentretenimento iDrive; o enorme e muito completo Head-Up Display; uma barra interativa iluminada por LED, que abrange as duas portas dianteiras e atravessa todo o painel de bordo, integrando diversos comandos e, ainda, as saídas de ventilação praticamente invisíveis; e os seis modos de condução (Personal, Sport, Efficient, Expressive, Relax e Digital Art), que fazem muito mais do que apenas ajustar o desempenho da mecânica à respetiva vocação, pois a cada qual está associado um ambiente específico, criado por diferentes ajustes da iluminação ambiente ativa, das cortinas laterais e traseira, do teto panorâmico (990 €), e, até, dos sons dedicados que lhe estão associados.



De parcela em parcela, pois é certo que, a este nível, o dinheiro não deve ser problema, o melhor é escolher, igualmente, o Pack Climate Acoustic (por 2580 €, inclui os vidros laminados de conforto climático e com proteção solar, e o Pack Aquecimento Comfort), e esquecer que o mundo lá fora sequer existe…


Ainda o melhor lugar

Perante tanto luxo e futurismo, as alavancas no volante, para ativar os limpa para-brisas, o comutador de máximos, e as luzes de mudança de direção, parecem quase arcaicos, com o típico “tic-tac” dos piscas a soar quase pré-histórico. Só que, de pré-histórico, o i7 M70 xDrive não tem absolutamente nada. E a mecânica comprova-o, muito contribuindo para garantir uma experiência de mobilidade eléctrica sobre quatro rodas totalmente imersiva – e que o lugar do condutor ainda continua a ser o que mais apetece ocupar.



No atual Série 7, todas as versões fazem uso da mesma plataforma, e a mais dotada das elétricas monta um motor por eixo, o que lhe garante a tração integral, e um rendimento combinado de qualquer coisa como 660 cv e 1100 Nm – embora o binário máximo esteja disponível apenas nos modos M Sport Boost (por um período máximo de 10 segundos) e Launch Control (o que assegura 3,7 segundos no arranque 0-100 km/h, apesar dos 2690 kg de peso anunciado – sem extras… –, encontrando-se a velocidade máxima limitada a 250 km/h). Ainda mais espantosos do que estes valores são a facilidade e a graciosidade com que o i7 M70 xDrive evolui em todas as circunstâncias: senhor de um extenso lote de sistemas avançados de assistência à condução, de um sistema de direção às quatro rodas (o eixo traseiro pode virar até 3,5° em qualquer um dos sentidos), e de uma sofisticada suspensão, com amortecimento pneumático adaptativo autonivelante, e barras estabilizadoras ativas, começa por impor-se por um conforto de marcha incólume a qualquer sobressalto, por mais demolidor que seja o piso, garantindo aos seus ocupantes uma absoluta tranquilidade, mesmo quando equipado com jantes de 21” e pneus de baixo perfil.



Por outro lado, face aos outros i7, esta versão dispõe de uma afinação mais desportiva para a tração total, para a direção com desmultiplicação variável, e para a suspensão, determinante para um comportamento dinâmico de uma eficácia invulgar, considerando o porte deste automóvel, que facilmente faz esquecer as dimensões e o peso.


A estabilidade direcional é enorme, mesmo a velocidades proibitivas

A estabilidade direcional é enorme, mesmo a velocidades proibitivas, mas o que, de facto, encanta é a agilidade, a rapidez e a precisão na inscrição em curva, inclusivamente em traçados mais sinuosos, em teoria, pouco favoráveis a um modelo com estas características, com a direção extremamente informativa a transmitir com precisão tudo o que acontece com as rodas da frente. Ao que há que juntar acelerações sempre intensas, fulgurantes, até, mas sem quaisquer sobressaltos para quem segue a bordo, graças a uma brilhante progressividade, sem as reações abruptas que caracterizam muitas vezes as motorizações eléctricas de elevada potência sempre que se pressiona o pedal da direita com maior intensidade - e o melhor é que tudo isto se passa sem que no interior se sintam quaisquer vibrações ou trepidações. Já na travagem, o Pack M Performance (990 €), com travões desportivos M, complementado pelo defletor na tampa da mala, é uma garantia extra de tranquilidade quando é necessário reduzir a velocidade muito rapidamente.



Há longe… e há distância!

Sempre sensível nos automóveis elétricos, e mais ainda num deste calibre, é a questão da autonomia. Muito diretamente: quem pretender tirar, em permanência, pleno partido de todo o potencial dinâmico do i7 M70 xDrive, deverá contar com paragens para recarregamento da bateria a cada 200 km, ou seja: se, em Portugal, as autoestradas se chamassem “autobahnen”, como na Alemanha, não dava para ligar “a fundo” as duas principais cidades portuguesas, e isso diz tudo…


Numa toada mais civilizada, a bateria, com 101,7 kWh de capacidade utilizável, faz com que a BMW anuncie uma autonomia combinada de até 560 km, o que, na prática se revelou difícil de alcançar, pois, em condições reais de utilização, uma carga completa dará para percorrer, em média, pouco mais de 600 km em estrada, quase 360 km em autoestrada, e cerca de 400 km em cidade – o que resulta numa autonomia média ponderada na casa dos 454 km. Para regenerar energia em desaceleração, é possível deixar o sistema adaptar automaticamente, em tempo real, a intensidade de atuação às circunstâncias do momento (como a velocidade de circulação do veículo precedente ou a aproximação a rotundas e curvas mais lentas, entre outras); ou selecionar a posição B da transmissão, que ativa o nível mais intenso, permitindo conduzir apenas com o acelerador em boa parte das situações em meio urbano, pois reduz a velocidade até à imobilização total do automóvel, e sem para isso precisar de adotar um nome pomposo, escolhidos pelos “marketeers”.



Confirmada que está toda a competência do i7 M70 xDrive, subsiste a questão de fundo: faz sentido tanta desportividade, e tanta “performance”, numa berlina de luxo elétrica vocacionada para um tipo de utilização que realça uma das suas principais limitações, que são as recorrentes, e demoradas, paragens para “reabastecimento”, e que se sente, nitidamente, menos à vontade em meio urbano, por sinal aquele em que os elétricos são mais eficientes? Numa perspectiva totalmente racional, talvez não faça, mas a história do automóvel também tem sido feita, em boa parte, de paixão, emoção e ambição -algo que, no caso em apreço, no mercado português, custa, no mínimo, 187.995 €… mas não inclui o cabo de carregamento Modo 2 (8801 €)!





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