Na Porsche, capítulo novo na história do Macan. O SUV transforma-se substancialmente e passa a ser apenas elétrico. O modelo mais compacto da marca alemã chega agora a Portugal e o primeiro contacto dinâmico por estradas lusas mostrou que as competências usuais dos modelos da Porsche estão salvaguardadas.
Desenvolvido ao abrigo de um conceito avançado de eletrificação, o Porsche Macan de nova geração dá continuidade à estratégia da marca alemã, sendo bastante importante pelo facto de ser o primeiro modelo a fazer a sua conversão total da combustão para a eletrificação. Ou seja, se o Taycan nasceu logo como elétrico, o Macan abandonou os motores de combustão interna e abraçou apenas as soluções elétricas.
Antes de mais, importa reter alguns dados relevantes, como o facto de o Macan ter como base a plataforma PPE (Premium Platform Electric) que foi desenvolvida conjuntamente entre a Porsche e a Audi (que tem, por exemplo, o novo Q6 e-tron com a mesma base), possibilitando dessa forma uma melhoria em atributos como a compactação dos componentes, a sua acomodação no chassis, mas também em termos de arquitetura eletrónica e elétrica, neste último caso com recurso a sistema de 800 V, o qual, entre outras vantagens, permite potências de carregamento muito mais altas.
Otimizado pela aerodinâmica
Esteticamente, o Macan volta a ser otimizado pela aerodinâmica, agora ainda mais determinante pelo facto de melhorar a eficiência (logo, a autonomia) a par do dinamismo. Mantendo linhas claramente identificativas com as de um Porsche, este modelo mede 4784 mm de comprimento, 1938 mm de largura e 1622 mm de altura, ao passo que a distância entre eixos de 2893 mm traduz um incremento de 86 mm face ao seu antecessor. As jantes podem chegar às 22 polegadas.
Em termos de desenho, os faróis estão agora divididos em duas partes: as unidades de luz superiores, constituídas pelas luzes diurnas de quatro pontos, realçam a postura musculada do Macan, ao passo que os módulos principais dos faróis, posicionados na área inferior, contam com tecnologia LED ou, opcionalmente, LED Matrix. Outras características do Macan de nova geração são as portas sem molduras, as “sideblades” na lateral e as cavas das rodas traseiras muito pronunciadas. Atrás, o logótipo Porsche encontra-se agora ao centro da faixa de luz 3D.
Já muito bom, o coeficiente de 0,25 Cd é, depois, sublinhado pela combinação de elementos ativos (Porsche Active Aerodynamics) e passivos: destaque para o spoiler traseiro adaptativo, flaps ativos de arrefecimento nas entradas de ar dianteiras, jantes de desenho otimizado e cobertura flexível na parte inferior da carroçaria completamente selada. Na traseira, outro elemento fundamental é o difusor integrado no para-choques.
Duas bagageiras e mais espaço no interior
Ganhando nas dimensões, o Macan também está mais funcional, o que se traduz numa melhoria da área para bagagens. Mediante a versão e o equipamento instalado, a capacidade da bagageira traseira é de até 540 litros (podendo chegar aos 1348 litros), enquanto na dianteira está um compartimento para 84 litros. No total, unindo essas duas, fica-se com mais 136 litros do que no antecessor. Já a capacidade máxima de reboque é agora de 2000 kg.
O espaço a bordo foi melhorado, sendo agora mais convidativo nos lugares posteriores (nos quais os passageiros vão sentados em posição até 15 mm mais baixa, com mais espaço para pernas), ao passo que os espaços de arrumação foram ampliados, naquele que é um ambiente altamente requintado e mais iluminado, mas fortemente polvilhado por retoques desportivos típicos de um Porsche.
Visualmente, a largura do habitáculo é reforçada pela consola central com painel preto, que oferece uma postura robusta também no interior, além de efetuar uma separação vincada entre o condutor e o passageiro. Com utilidade decorativa, mas também funcional, há uma faixa de luz em LED a percorrer o tablier e as portas, podendo servir de alerta em associação com os sistemas de assistência à condução ou de indicador do processo de carregamento. Muitos dos materiais usados a bordo são também mais ecológicos.
Tecnologia reforçada
Concetualmente, o desenho do interior é semelhante ao dos Taycan ou do mais recente Cayenne, o mesmo se aplicando à vertente tecnológica, com o conjunto definido por Porsche Driver Experience a integrar um painel de instrumentos curvo de 12,6 polegadas e o ecrã central de 10,9 polegadas. O passageiro dianteiro também pode ver e controlar o sistema de infoentretenimento através de um ecrã de 10,9 polegadas disponível como opcional (com tecnologia que impede o condutor de ver esses conteúdos em andamento).
Também pela primeira vez, o Macan inclui um “head-up display” com tecnologia de realidade aumentada, a qual apresenta elementos visuais como setas de navegação integradas no mundo real. A imagem é exibida ao condutor a uma distância de 10 metros e corresponde ao tamanho de um ecrã de 87 polegadas.
O sistema de infoentretenimento de nova geração tem como base o sistema operativo Android Automotive OS, com o Porsche Communication Management (PCM) de série a permitir avanços na conectividade (Android Auto e Apple CarPlay sem fios ou atualizações remotas de vários sistemas) e na funcionalidade, com o novo assistente de voz “Hey Porsche”, o qual sugere trajetos, incluindo paragens para carregamento. É também possível descarregar aplicações fornecidas por terceiros e instalá-las diretamente no sistema, ao passo que o Porsche Charging Planner permite fazer qualquer rota integrando as necessidades de carregamento para chegar ao destino predefinido.
Os comandos do ar condicionado continuam a estar presentes na consola central e em formato físico, mantendo-se assim esta tradição da Porsche.
Várias versões: da eficiência à performance
A gama do novo Macan tem quatro versões diferentes – da mais eficiente Macan (de entrada) à mais potente Macan Turbo. Semelhante em todas é a bateria de 100 kWh (95 kWh úteis), podendo depois ser associada a um único motor elétrico ou a dois motores elétricos (sempre síncronos de ímanes permanentes, ou PSM).
A entrada na gama faz-se com o Macan de tração traseira, com 340 cv de potência (360 cv em “overboost”) e 563 Nm de binário máximo
A entrada na gama faz-se com o Macan de tração traseira, com 340 cv de potência (360 cv em “overboost”) e 563 Nm de binário máximo, o que lhe permite acelerar dos 0 aos 100 km/h em 5,7 segundos e atingir os 220 km/h de velocidade máxima. Esta é a versão com autonomia mais alargada, chegando aos 641 km em ciclo combinado WLTP. Apesar de ter um valor de potência mais baixo, contrapõe com um peso que é até 110 kg mais leve do que a versão Macan 4, o que lhe permite assim beneficiar a agilidade e a os consumos.
A escalada na gama faz-se, depois, com o Macan 4, que dispõe de dois motores elétricos para uma potência combinada de 387 cv (408 cv em “overboost”) e 650 Nm de binário máximo. Acelera dos 0 aos 100 km/h em 5,2 segundos, atinge os 220 km/h de velocidade de ponta e tem uma autonomia de até 613 km.
Terceiro na lista é o Macan 4S, com 448 cv de potência (516 cv em “overboost”) e 820 Nm de binário máximo, acelerando dos 0 aos 100 km/h em 4,1 segundos e chegando aos 240 km/h de velocidade máxima. A autonomia máxima é de 606 km.
No topo encontra-se o Macan Turbo, que é a versão de prestações mais apuradas e com a possibilidade de receber diversos elementos específicos de série, como a suspensão pneumática com controlo eletrónico do amortecimento PASM (opcional nas demais versões), emblemas na cor “Turbonite” e diversas opções de personalização a gosto do comprador. Esta versão debita 584 cv de potência (639 cv em “overboost”) e 1130 Nm de binário máximo, acelera dos 0 aos 100 km/h em 3,3 segundos e atinge os 260 km/h de velocidade máxima. Quanto à autonomia combinada WLTP, cifra-se nos 591 km.
Os modelos de tração integral dispõe de sistema Porsche Traction Management (ePTM), o qual controla de forma eletrónica a tração entre os dois eixos, com a marca a apontar um tempo de atuação cinco vezes mais rápido do que um sistema de tração integral convencional. Além disso, a distribuição da tração integral é regulada pelo modo de condução selecionado. O Porsche Torque Vectoring Plus (PTV Plus), um bloqueio do diferencial traseiro com controlo elétrico, também contribui para a tração e estabilidade de condução, sobretudo no caso do Macan Turbo.
Novidade é também o facto de o Macan poder ter eixo traseiro direcional com ângulo de viragem de até 5 graus, sendo outro opcional.
Fruto da plataforma PPE, o modelo admite potência de carregamento DC de até 270 kW, o que permite recarregar de 10 a 80% do estado de carga em cerca de 21 minutos. O carregamento AC até 11 kW é possível numa “wallbox” doméstica.
Sensações desportivas
Muito bem sentados e com uma posição de condução que, apesar de ser elevada, oferece confiança e controlo ao condutor, os primeiros quilómetros ao volante do Macan Turbo devolvem com alguns aspetos interessantes: a qualidade de rolamento é elevadíssima (firme, mas não tremendamente desconfortável), o nível de ruído é praticamente nulo e a direção tem um tato preciso e direto, tipicamente Porsche. Aliás, a direção é mesmo um dos aspetos que melhor contribui para uma sensação desportiva na condução do Macan de nova geração, permitindo leitura muito competente dos movimentos da carroçaria.
A este respeito, o dinamismo do Macan Turbo – neste caso, equipado com suspensão adaptativa – está num patamar muito elevado, mercê da tal qualidade de rolamento e da competência no controlo das transferências de massa em curva até pela posição central e baixa da bateria. Ainda assim, no trajeto em questão, houve poucas curvas para uma análise mais profunda ao seu dinamismo.
Aquilo que, por outro lado, não surpreende, é a resposta pronta e muitíssimo eficaz do sistema motriz integral, impelindo-nos para a frente com tremenda decisão, sobretudo quando é preciso recuperar velocidade e no modo de condução mais desportivo “Sport Plus”. Os consumos, num percurso com cerca de 150 km em que a larga maioria foi feita em autoestrada, rondaram os 23 kWh/100 km.
Em suma, embora os primeiros quilómetros não tenham permitido uma análise mais profunda, fica a ideia que o ADN desportivo do Macan e da marca estão bem protegidos, com reações precisas e prestações que lhe permitem afigurar-se como uma proposta a considerar no universo dos elétricos de luxo.
Preços
Quanto aos preços, o modelo de entrada tem uma “etiqueta” base de 83.671€, ao passo que o Macan 4 tem um valor base de 86.793€. As duas versões de topo, Macan 4S e Macan Turbo, têm preços base de 94.038€ e de 118.846€, respetivamente.
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