A Alpine parte para a segunda temporada na categoria de topo do Mundial de Resistência (WEC) com ambições renovadas, passando a contar com a participação de Frédéric Makowiecki, que traz consigo toda a experiência acumulada no desenvolvimento do Porsche. Na equipa mantém-se ainda Mick Schumacher, que irá cumprir a sua segunda época em provas de resistência e garante estar mais adaptado à categoria.
Após uma temporada de aprendizagem ao mais alto nível, a Alpine revelou a composição das suas equipas e a decoração do A424 Hypercar para a época de 2025 do Mundial de Endurance (WEC), procurando assim construir as fundações para uma progressão que permita à equipa lutar por posições cimeiras.
Tal como em 2024, a Alpine vai alinhar com dois carros na categoria principal, a Hypercar, com o #35 a ser partilhado por Paul-Loup Chatin, Charles Milesi e Ferdinand Habsburg, enquanto o #36 será partilhado por Mick Schumacher, Jules Gounon (promovido após um período bem-sucedido como piloto de reserva) e Frédéric Makowiecki, piloto que causou a maior surpresa ao transferir-se da Porsche para a marca francesa.

Numa conferência digital com alguns meios selecionados, incluindo a E-AUTO, Mick Schumacher, Frédéric Makowiecki e Philippe Sinault, diretor da equipa Alpine no WEC, revelaram as suas expectativas para 2025, nomeadamente, tendo em conta as boas prestações já alcançadas na parte final da temporada passada.
Para Schumacher, afastada a hipótese de regressar à Fórmula 1 este ano, a concentração é total o WEC, com o piloto alemão a garantir, em conferência de imprensa exclusiva a alguns meios de comunicação, incluindo a E-AUTO, que já se sente muito mais confiante nas provas de resistência após um ano que foi de aprendizagem natural.
“Para mim, o ano passado foi de primeiro contacto com as corridas de resistência e houve muitos aspetos que foram uma novidade absoluta de muitas maneiras. Sobretudo o carro, que é muito diferente em comparação com um Fórmula 1. Foi uma grande adaptação que tive de fazer, porque estes carros são um pouco mais pesados, têm menos carga aerodinâmica e mexem-se mais em curva”, apontou. “Agora, após algumas corridas, diria que já tenho um bom entendimentos daquilo que o carro precisa e do que faz. E penso que, enquanto equipa, ainda estamos em desenvolvimento se a melhorar para chegar a uma posição em que o carro é muito consistente e faz sempre a mesma coisa. Penso que estamos numa trajetória positiva este ano, também com a chegada do Frédéric”, acrescentou, fazendo questão de sublinhar que a Alpine está apenas no seu segundo ano ao mais alto nível.
O pódio em si não é um objetivo, para nós, o objetivo é desenvolver o carro e o projeto
Antes de assumir que o objetivo para 2025 é lutar pelos pódios, Schumacher entende que é preciso, em primeiro lugar, “ver o que os rivais fizeram, porque também não ficaram parados desde o ano passado. Vamos ver quem terá avançado mais… esperemos que tenhamos sido nós. Mas, para chegar aos pódios, será uma questão de perceber o que precisamos do nosso carro e ser mais rápidos do que os outros. Mas também penso que o pódio em si não é um objetivo, penso que, para nós, o objetivo é desenvolver o carro e o projeto, porque isto não é um ‘sprint’, mas sim mais uma maratona. Temos de ser consistentes e ter um entendimento consistente do carro e se tentarmos saltar etapas, podemos chegar lá mais depressa, mas depois não seremos consistentes.

Sinault salienta evolução
Philippe Sinault afinou pelo mesmo diapasão, reforçando a ideia de que a Alpine tem muito para aprender, embora “sabendo onde estamos exatamente neste momento e o que temos de melhorar. Em pista, o pacote é bom, de alta qualidade em termos técnicos e desportivos. Veremos em que ponto estamos no Catar [NDR: testes de pré-época], face aos outros concorrentes”.
Por seu turno, um dos elementos que reforça a confiança da equipa é a chegada de Makowiecki, com Sinault a considerar que a sua inclusão no carro #36 com Schumacher e Jules Gounon será especialmente proveitosa. “Estou convencido de que sim [que serão rápidos de imediato]. Quando disse ao Jules e ao Mick que o Fred ia ser o colega de equipa deles foi como uma prenda de Natal para eles. Por isso, é uma prova de que foi bem recebido, tem a mentalidade certa, o conhecimento e a experiência. Uma escolha muito boa e uma excelente adição ao projeto”.

Interrogado quanto aos objetivos para a temporada, Sinault preferiu abordar a questão de outra forma, apontando ao invés três objetivos não concretos. “O primeiro é a fiabilidade: temos de terminar todas as corridas. O segundo é a humidade, temos de ser humildes, tendo em conta o nível dos nossos concorrentes. Mas, e este é o terceiro, se tivermos alguma oportunidade de fazer melhor do que no ano passado, fá-lo-emos. Penso que seria um erro apontar um objetivo claro. Temos de fazer melhor, de certeza. Todas as manhãs, vamos acordar para isso”.
Um passo para cumprir o primeiro dos objetivos, o da fiabilidade, já foi dado, com a utilização de um “joker” relativo à área do motor para garantir uma maior resistência para tentar evitar os problemas sentidos na edição de 2024 das 24 Horas de Le Mans, na qual ambos os carros abandonaram com motores partidos.
Experiência valiosa
Após vários anos na Porsche e de ter ajudado a desenvolver o protótipo da marca alemã, Makowiecki junta-se à Alpine, numa decisão algo surpreendente, mas que o próprio explica com a necessidade de encontrar um novo foco de motivação para continuar a competir, bem como novas formas de estar em corrida. Recorde-se que Makowiecki conta no seu currículo com vários triunfos à classe em algumas das corridas mais exigentes do mundo, como nas 12 Horas de Sebring e nas 24 Horas de Le Mans.
“Tive muito orgulho e sorte em ser piloto de fábrica da Porsche durante muito tempo. Mas, a certa altura, também é uma questão de trabalhar com pessoas que têm a mesma abordagem, o mesmo tipo de visão de como trabalhar e, nos últimos anos, foi um pouco mais difícil para mim trabalhar com a Porsche e, definitivamente, quando comecei a falar com o Philippe [Sinault, Diretor da equipa] e com o Bruno [Famin, Vice-Presidente da Alpine Motorsport], gostei muito da abordagem em que temos a mesma visão das corridas e diria que, de certa forma, o meu objetivo agora é ter prazer e desfrutar ao ir para uma pista de corridas”, revelou o francês.
“Estou a trabalhar com pessoas que têm a mesma visão que eu"
“Estou a trabalhar com pessoas que têm a mesma visão que eu e senti que não desejava continuar a trabalhar com pessoas com quem, por vezes, tinha alguma tensão ou que tinham, diria, uma visão e um ponto de vista diferentes”, acrescentou.
Porém, Frédéric Makowiecki recusa chegar à equipa com algum estatuto de superioridade pela sua experiência, mas antes contribuir com aspetos positivos. “Vou ter mais tempo para analisar tudo e dar o meu contributo positivo ao sistema porque é interessante que ambos os construtores tenham terminado o ano com níveis de prestações muito semelhantes, porque a Alpine esteve muito forte nas últimas corridas. Mas estão a fazê-lo de uma maneira diferente. É por isso que se eu puder trazer aquilo que sei para juntar ao que está a ser feito aqui, penso que o pacote geral pode ser muito forte”.
“Sou uma pessoa humilde e não vou chegar aqui e dar conselhos a toda a gente, porque tenho de entender tudo primeiro. É evidente que tenho grande conhecimento do carros porque ajudei a desenvolver bastante o Porsche e, em paralelo, os pneus Michelin. Mas também quero aprender como funciona. Penso que seria muito arrogante da minha parte se chegasse aqui a dizer que precisam de fazer isto e aquilo. Posso partilhar a minha experiência e ver se funciona ou não”, acrescentou o francês, que tem ainda como objetivo para este ano entrosar-se com os seus dois colegas de equipa para assim proporcionar um desempenho mais sólido e consistente da parte dos três.
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