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Foto do escritorPedro Junceiro

Abarth 500e Turismo

A exigência de rapidez na eletrificação do automóvel também obriga esta marca italiana à revisão da fórmula desportiva com que pretende impor-se comercialmente. No 500e, “adeus” aos motores térmicos, sim, mas sem perda da imagem divertida e irreverente que associamos à Abarth. Não falta sequer a sonoridade expressiva do sistema de… escape!



A Abarth, marca habituada a desenvolver desportivos para legião de entusiastas apaixonados, teve de reinventar as regras do jogo em linha com a eletrificação: o 500e é o primeiro automóvel 100% elétrico com o emblema do escorpião, mas a marca italiana não poupou esforços para tentar manter os seus traços identitários quase inalterados, nomeadamente a diversão ao volante, a resposta muito espevitada ao acelerador e, ainda, a imagem atraente e dinâmica.


A marca italiana não poupou esforços para tentar manter os seus traços identitários quase inalterados

 

Partindo por aqui, o 500e Turismo sobressai pelas dimensões compactas (3,673 m de comprimento e 2,322 m de distância entre eixos), mas também por para-choques mais musculados, denominação na dianteira a acompanhar o símbolo, spoiler traseiro, difusor e cavas das rodas mais amplas, ganhando, assim, um volume mais desportivo. As jantes de 18’’ também contribuem para esta imagem, apresentando-se acompanhadas por pneus Bridgestone desenvolvidos à medida. Detalhe identificativo é, ainda, o do logótipo do escorpião nas laterais, agora mais estilizado e com um raio a acompanhá-lo.



Naturalmente, a base para o 500e da Abarth é a do 500e da Fiat, mas muitos elementos foram alterados ou otimizados pela marca do escorpião para oferecer sensações de condução diferenciadas: a suspensão foi extensamente revista, bem como a própria atuação do motor elétrico e da bateria de tração, que tem 42 kWh de capacidade e está preparada para reagir melhor às atuações repetidas de acelerações e travagens.



Ética desportiva  

Uma vez a bordo, impera a sensação de elegância desportiva, mas com muita sobriedade à mistura imposta pela tonalidade escura de materiais e revestimentos (como a faixa no tablier em Alcantara). O volante em combinação de Alcantara e pele com marcador central superior e os bancos desportivos com encosto de cabeça integrado (e reforços dos apoios laterais), também em Alcantara e pele, estão entre os elementos que mais contribuem para o ambiente que encontamos no interior. Nos dois, pespontos contrastantes (brancos no volante, amarelos e azuis nos bancos).



A qualidade de construção é bastante boa, mesmo sendo o habitáculo dominado por plásticos duros. O plano tecnológico fica defendido pelo ecrã TFT do painel de instrumentos de 7’’, muito completo nas informações e com algumas variações gráficas consoante o modo de condução, e pelo ecrã tátil central de 10,25’’, no qual é possível aceder à mais recente versão do sistema Uconnect, com conectividade sem fios aos smartphones por via de Android Auto ou Apple CarPlay, além de propor diversos dados relacionado com as performances, como a potência ou os valores de aceleração – não sendo exaustivos como noutros desportivos (muitíssimo mais caros, saliente-se), dão um toque interessante ao 500e.


A qualidade de construção é bastante boa

Entre os dois bancos dianteiros encontra-se uma consola de arrumação (com porta-copos oculto) e alguns comandos, como o dos modos de condução, com a marca a preocupar-se um interior limpo de muitos botões, embora seja de saudar a manutenção de comandos físicos para o ar condicionado. Simples e eficaz.



Sem surpresa, até pela maior espessura dos bancos dianteiros, a habitabilidade é limitada, com os bancos traseiros a serem mais aptos para crianças, uma vez que nem o espaço para as pernas, nem a altura do assento ao tejadilho são suficientes para adultos. A mala (185 litros) também não é ampla e, com os cabos de carregamento da bateria a bordo, torna-se ainda menos prática.



Pequeno diabrete 

Solucionada uma das queixas da geração anterior – a posição de condução sobrelevada –, o Abarth 500e novo revela os seus melhores argumentos durante a condução. O motor elétrico com 155 cv (114 kW) e 235 Nm consegue ser entusiasmante nas acelerações e nas retomas, nos modos de ação mais desportivos (Scorpion Street e Scorpion Track), apresentando a impetuosidade que os adeptos procuram. Essa mesma competência, em linha com muitos elétricos, diferencia-se, no entanto, pelo entrosamento geral com que brinda o condutor, sobretudo por via de uma direção com assistência reduzida, mas bastante precisa, e o tato da travagem muito eficaz, embora aqui seja preciso destacar que o condutor não pode escolher o nível de regeneração.



Dos três modos de condução, o Turismo e o Scorpion Street contam com uma retenção elevada pouco adequada a uma condução desportiva, sobrando o segundo, que dispensa qualquer nível de retenção (pelo lado menos positivo, retira algo como 10 km de autonomia). No entanto, acaba por ser neste programa que o Abarth 500e melhor se apresenta. O 500e permite, até, passagens em curva com doseamento do acelerador para ajudar nas entradas e nas saídas, assim mostrando como é bem conseguido.

 

Adicionalmente, este modelo sobressai pelo nível muito bom de controlo da carroçaria.

Aqui, a bateria em posição baixa e entre os dois eixos cumpre aqui papel essencial, já que permite ao Abarth 500e curvar bastante depressa, transmitindo-nos sensações não muito diferentes dos antecessores com motores de combustão interna e sem penalização do conforto, mesmo que tenha amortecimento mais firme do que o modelo análogo na gama da Fiat.



É nessa conjuntura de atributos que se encontram os principais elogios ao Abarth 500e – o dinamismo é uma mais-valia (talvez até mais eficaz do que um correspondente a gasolina), bem como as prestações, com consumos que podem ficar bem abaixo dos anunciados pela marca. O nosso teste revelou 13,9 kWh/100 km. Se a autonomia em torno dos 250 km é realista, não deixa de ser um valor reduzido. Porém, recorde-se, o 500e é um citadino...



Som polarizado 

Além de criar um pequeno desportivo eclético e divertido de conduzir, a Abarth também quis manter o elo de ligação ao seu passado através da abordagem sensorial auditiva. Graças ao que apelida de Abarth Sound Generator, este 500e replica a sonoridade de um escape Record Monza, ecoando de forma muito credível no exterior e no interior. Claro que não existem ponteiras de escape, com o segredo a residir num altifalante colocado na traseira que replica a progressão das rotações. O sistema é polarizador: bem executado, consegue enganar os que não prestam atenção a detalhes como a sigla 500e ou… a ausência de escapes. Todavia, existem pontos a melhorar, desde logo por este sistema poder ativar-se ou desativar-se apenas em menu do painel de instrumentos e quando o veículo está imobilizado.



Além disso, a sonoridade é, na verdade, uma combinação de dois sons: um deles, sempre presente como som de fundo é combinado com o tal registo de escape que ganha ímpeto conforme acelera, mas em autoestrada, por exemplo, torna-se fastidioso já que se mantém bastante audível de forma continuada e monocórdica.


A marca italiana sabe como produzir elétricos divertidos de conduzir.

 

Este sistema está presente de série na versão Turismo ensaiada, que conta com lista de equipamento muito extensa, que inclui o Pack Scorpion Tech, com as jantes de 18’’ ou os bancos em Alcantara, a justificarem os 43.280 €. Não deixa de ser um valor elevado que não ajuda à causa da Abarth (sobretudo, considerando-se a autonomia muito limitada). Logo, este 500e assume-se como produto de nicho do que modelo de volume. Fica-nos a garantia de que a marca italiana sabe como produzir elétricos divertidos de conduzir.



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