Os pneus têm um papel preponderante no automobilismo e podem representar a diferença entre vencer ou perder uma corrida. Numa prova tão emblemática e desafiante como as 24 Horas de Le Mans, a Michelin levou mais de 4.000 pneus para o pelotão dos Hypercars e a Goodyear mais de 7.000 para os LMP2 e LMGT3.
Além dos protótipos que “atacam” a pista em competição desenfreada, também os pneus que os equipam são autênticas obras de engenharia, sendo o produto de meses intensos de desenvolvimento. Naquela que foi mais uma edição desafiante das 24 Horas de Le Mans, marcada por períodos intensos de chuva, a Michelin voltou a ter um papel fundamental para responder às necessidades do pelotão de todos os Hypercars (categoria principal do Mundial de Resistência).
Para o efeito, toda a operação tem de ser eficiente e eficaz. O grande centro nevrálgico está situado por detrás do paddock do circuito de La Sarthe, sendo ali armazenados, catalogados, montados e, posteriormente, transportados os pneus para todas as equipas da categoria Hypercar, sendo a Michelin a fornecedora oficial desta classe (a Goodyear equipa as classes LPM2 e LMGT3).
Para aquele armazém temporário são transportados 4.100 pneus que, depois, vão sendo usados gradualmente ao longo de todas as sessões de treinos e corrida. O processo logístico é complexo, como detalhe David Peyrat, responsável da cadeia de fornecimento da Michelin, com a marca francesa de pneus a manter todo o controlo sobre a sua operação de fornecimento às equipas e de forma bastante digitalizada.
Um centro de “fast-food” para pneus
Um pouco como um centro de “fast-food”, as equipas efetuam um pedido para os pneus que desejam através de uma plataforma informática, com este armazém a receber o pedido, o qual pode ser acompanhado através de um ecrã. Os pneus, catalogados de forma distinta para cada equipa e, dentro destas, para cada carro, são preparados e posteriormente montados nas jantes enviadas pelas equipas num ciclo em constante repetição.
Considerados confidenciais devido à engenharia envolvida, os pneus são sempre pertença da Michelin, pelo que regressam sempre à marca para posterior processo de investigação da resposta dos compostos e tratamento de resíduos. Assim, os pneus são dados à equipa, utilizados (ou não) e devolvidos, quase “como numa lógica de aluguer, com um preço de pacote já definido que inclui também o processo logístico de transporte e o de desenvolvimento”, aponta Peyrat.
A Michelin envia para Le Mans cerca de 100 pessoas, com 46 destas dedicadas às montagens e equilibragem de pneus em duas linhas de montagem. Junto das equipas, nas boxes, encontram-se 15 engenheiros que servem de elo de ligação entre as duas parte.
Para 2024, uma das alterações passou marcação lateral dos pneus de forma a identificar os compostos em utilização: a marcação lateral em branco representa os pneus macios (usados essencialmente à noite, uma vez que o seu raio de funcionamento situa-se entre os 0º e os 15 º C), a marcação amarela os pneus médios (entre 15º e os 25º C) e a vermelha os pneus duros (usados em altas temperaturas e pisos abrasivos). Os pneus de chuva têm marcação lateral a azul. Estes são também os únicos pneus utilizados em piso molhado, já que os pneus intermédios são proibidos pelo regulamento, o que permitiu também reduzir a logística de transporte, já que é menos um tipo de pneus a levar. Outra interdição prende-se com qualquer alteração ao piso dos pneus efetuado pela equipas.
Goodyear equipou quase dois terços do pelotão
Tarefa também árdua para a Goodyear, que equipou 39 carros das categorias LMP2 e GT3 nas 24 Horas de Le Mans, ou seja, quase dois terços do pelotão (os Hypercars representam 23 inscrições). Para a edição de 2024, a marca americana de pneus trouxe ainda mais unidades do que a Michelin, naturalmente, com um total de 7.500 pneus transportados até Le Mans.
Na edição de 2024 das 24 Horas de Le Mans, a Goodyear indica que algumas equipas conseguiram fazer quatro turnos de corrida com um único jogo de pneus, equivalendo a cerca de 550 km. Num dos casos, uma equipa cumpriu 45 voltas, ou seja, 613 km, com os mesmos pneus.
Tal como acontece na Michelin, a cadeia logística é semelhante, com peritos para proceder à montagem e inspeção dos pneus de forma bastante controlada. Nas boxes, um total de 18 engenheiros trabalhou com as equipas para ajudar nas estratégias. Porém, ao contrário de outras categorias, os carros de LMGT3 apenas contam com um pneu slick e um pneus para chuva em cada evento, pelo que são obrigados a suportar uma grande diversidade de pistas e proporcionar total aderência em circunstâncias distintas de piso ou de temperatura.
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